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Aldri Anunciação

Neste mês de dezembro, o Espaço do Autor orgulhosamente apresenta a entrevista com o vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura Nacional 2013 na categoria Literatura Juvenil, Aldri Anunciação. Namíbia, Não! ganhou versão para o teatro em 2011 e tornou-se um sucesso de público e crítica. O livro já recebeu o prêmio FAPEX/UFBA de Dramaturgia e o Troféu Braskem de Teatro como melhor texto.

O autor participa do espaço pela 2ª vez para falar da obra que lhe concedeu o mais importante prêmio literário do Brasil.

 

Por Camila Fiuza

02/12/2013

 

1 – Recentemente, o senhor foi premiado com o Jabuti, o mais importante prêmio literário do Brasil, pelo sucesso do livro Namíbia, não!. Inclusive, o roteiro foi adaptado à peça teatral homônima e é bem divulgada na mídia. O senhor esperava que seu livro tivesse toda essa repercussão?

Em verdade trabalho mais com fé, do que com expectativas. E quando digo fé, refiro-me ao sentido menos religioso possível da palavra, e mais aproximado à ação interna de acreditar. Enquanto escrevia Namíbia, Não!, acreditava sempre que algumas pessoas teriam interesse na história fictícia de dois primos confinados em um apartamento, em busca de uma identidade. Em um momento em que as fronteiras estão cada vez menos delimitadas, penso que a questão da identidade é um tema que a humanidade ainda não conseguiu enfrentar de maneira responsável e madura. As ações referentes a este assunto (no mundo) ainda estão muito desajeitadas e desastradas. Um exemplo disso são as recentes notícias da garota cigana que foi retirada da sala de aula de uma escola em Paris e deportada para Kosovo, ou as últimas atitudes do governo suíço com os cidadãos exilados naquele país. A amplitude do questão identitária, é que redimensionou a repercussão do livro Namíbia, Não! (ed. Edufba).

 

2 – Como e quando surgiu a ideia de escrever o Namíbia, não! ?

A ideia surge exatamente dessa reação desajeitada que o mundo tem em relação às diferenças sócio-culturais. O diferente ainda é visto como uma grande ameaça econômica. A partir desse temor mundial, eu quis colocar na minha história, dois personagens (com pensamentos antagônicos sobre o mesmo assunto) para através do diálogo, investigar as razões que tentam fundamentar as ações desastradas das sociedades que ainda insistem em demarcar territórios. Obviamente, eu quis articular esses pensamentos de forma leve e atraente; por isso lancei mão do humor (ácido e irônico). Esses elementos atraem as pessoas (leitores e espectadores) ao debate. Uma espécie de agradável armadilha”!

 

3 - A obra gira em torno de uma história fictícia onde dois primos são surpreendidos por uma medida provisória do governo brasileiro que determina que cidadãos com traços que indiquem ascendência africana sejam devolvidos aos seus países de origem, na África. Como essa história pode contribuir para a reflexão sobre as questões sociais do Brasil?

A história fictícia deste livro (Namíbia, Não!) evidencia o absurdo de determinadas leis. A história dos primos, catalisa ao extremo uma atitude fundamentada pela legalidade institucional, provocando uma reação interna no leitor(espectador). É essa reação que me interessa enquanto autor; pois é aí que a reflexão acontece, e estabeleço meu diálogo com o leitor. Fico imaginando os diversas pensamentos que os leitores produzem ao entrarem em contato com a situação fictícia dos primos confinados no apartamento (pois evitam saírem de casa e serem enviados pra África, apesar de serem brasileiros natos). Se pelo menos 10% dos leitores exercitarem um pensamento sobre a questão (de ir ou não pra África) dos personagens centrais dessa história, já teremos uma contribuição significativa para a reflexão sobre as questões sociais do Brasil. E digo isso, independente  das conclusões de cada um; somente o “ato” de refletir sobre o assunto, já é um ponto positivo.

 

4 – O senhor inova ao utilizar a ficção futurística no roteiro. Esse aspecto também serviu para despertar inquietações sobre as questões sociais. Como surgiu essa ideia, já que é raro no teatro?

Não posso dizer que é exatamente uma inovação. Precisaríamos investigar com mais precisão, se já não houve tentativas futurísticas em dramaturgia. O fato é que apesar de a história (de Namíbia, não!) se passar no futuro, ela apresenta questões atuais. Coloquei a ação no futuro, com o intuito de diminuir uma possível culpabilidade ao leitor(espectador). Quando o enredo se passa no futuro, o leitor se sente (falsamente) isento de culpa (comprometimento) com o que está ocorrendo com os personagens fictícios, e as conclusões desastradas da história. O aspecto futurístico termina funcionando como um grande alerta.

 

5 - Existe algum outro projeto em andamento? Qual?

Existem alguns projetos, sim. Mas minha timidez é o suficiente para evitar falar sobre eles ainda.

 

6 - Deixe uma mensagem para os leitores da Edufba.

Continuem usufruindo de livros de ficção; pois dentro das ficções escondem-se grandes possibilidades de verdades.

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