Ciência para pensar direitos humanos: Podcast da Edufba recebe Angélica Baptista, pesquisadora da Fiocruz

O último episódio da primeira temporada de Diálogos, podcast da Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba), aborda o papel da ciência e pesquisa na viabilização de direitos humanos. O programa recebe Angélica Baptista, pesquisadora do Departamento de Direitos Humanos (DIHS) da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e uma das organizadoras de Direitos humanos e saúde: gênero e sexualidade em vozes insurgentes, publicado pela Edufba em 2024.
Angélica conversou com a Edufba sobre o processo de organização do livro, que traz 17 trabalhos elaborados por pesquisadores da ENSP, entre outros convidados, em temas como trabalho e saúde do trabalhador, violência de gênero, desafios no cuidado da saúde da população LGBTQIAPN+ e empoderamento por meio da educação e tecnologia da informação.
A pesquisadora destacou que, apesar da posição da Fiocruz como uma das principais instituições brasileiras de pesquisa, ensino, produção e difusão de conhecimento com foco na saúde pública, ciência e tecnologia, pesquisas como as elaboradas pelo DIHS encontram dificuldades em um ambiente focado no biomedicalismo.
“Algumas práticas acadêmicas, elas perpetuam a situação de exclusão de vários grupos. Eu, por exemplo, trabalho com na metodologia que a pesquisa participativa de base comunitária. Quando eu trabalho, por exemplo, com a população LGBT, provavelmente você vai ver um assistente de pesquisa comigo fazendo a pesquisa que é da comunidade LGBT. Se eu estou fazendo uma pesquisa sobre racismo entre negros brasileiros, vou estar com pesquisadores negros também trabalhando isso. Enfim, privilegiar o lugar de fala da maneira mais radical, ou seja, ele constroi a pesquisa com você. Isso parece simples, mas no ambiente biomédico não é uma coisa simples", comenta.
Comunicadora social de formação, Baptista apontou comunicação pública da saúde como parte das atividades multissetoriais envolvidas no cuidado integral e na assistência clínica, configurando como uma contribuição mais humanizada que pesquisadores comunicadores conseguem dar.
“Isso envolve uma pessoa formada em Comunicação Social como eu poder ter propriedade de falar sobre saúde, sobre cuidado [...] Será que é só você dizer que a pessoa está com uma virose, receitar a dipirona, é isso que vai trazer saúde para essa pessoa? Então elas [pessoas da comunicação] trazem esse contributo, que não é um contributo clínico. Mas a comunicação, ela é um meio que pode inclusive salvar vidas. Quando você não faz uma comunicação, aí vêm as fake news”, comenta, relembrando o período pandêmico, em que o instituto foi um dos alvos das campanhas de fake news. “Uma má comunicação, uma comunicação mal-intencionada da saúde pode matar muita gente”.
A pesquisadora reforça que pautas relacionadas à violência de gênero, como o feminicídio e a mortalidade materna, sofrem uma invisibilização que vai da dificuldade de definir os casos à falta de divulgação, processo que tem impacto na construção de lutas sociais por direitos humanos.
“As mulheres não sabem que existem esses comitês de vigilância de óbito materno. Nas diretrizes, está escrito que esses comitês precisam divulgar o trabalho deles. Além de fazer a vigilância, divulgar, fazer cursos e educar a população a denunciar casos, apurar e, enfim, lutar pelos seus direitos. Você já viu isso acontecer?”.
Angélica Baptista é especialista em internet, interface e multimídia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestra e doutora em Saúde Pública pela Fiocruz, e possui graduação em Comunicação Social pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), com habilitação em Jornalismo. A pesquisadora coordena a especialização emDireitos Humanos, Gênero e Sexualidade da ENSP.
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