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Dayse Porto de Santana

No mês de novembro, a Edufba traz uma conversa com Dayse Porto de Santana, autora de um dos seus últimos lançamentos, "Série Ó Paí, Ó: ritmo e cultura da Bahia na TV".  Nesta nova edição do Espaço do Autor, a jornalista fala sobre  representatividades e televisão, ambos objeto de estudo da autora.

Formada em Comunicação com Habilitação em Jornalismo pela Ufba, mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo, e tendo estudado roteiro na Escuela Internacional de Cine y Televisión − EICTV, em Cuba, Dayse atua há mais de dez anos como criadora de conteúdo para televisão, cinema independente, web e outras plataformas. Nascida em Cachoeira, cidade do Recôncavo da Bahia, a autora se encantou desde cedo pelos ritmos e vozes de culturas negro-mestiças, passando a perceber, posteriormente, suas amplas influências, inclusive, nos meios de comunicação de massa. Como pesquisadora, interessa-se por fenômenos que "amalgamam" textos da cultura e mídias, especialmente as audiovisuais.

Seu livro se debruça sobre a série de televisão “Ó paí, ó”, com direção geral de Monique Gardemberg − mesma diretora do filme − ao passo em que levanta uma questão fundamental: como se constrói a representação da Bahia e do baiano nesse produto televisivo? Além disso, a obra busca aprofundar a discussão sobre cultura e configurações identitárias, tangenciando discussões antropológicas, entre outros aspectos. Encontram-se ainda reflexões sobre televisão e mídia, a partir de uma perspectiva transdisciplinar que integra estudos de teledramaturgia e audiovisual, comunicação, semiótica, oralidade e afins.

Por Pablo Santana

Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional e acadêmica.

Eu sou graduada pela Faculdade de Comunicação da UFBA (2008) e desde a faculdade estudo teledramaturgia. Fui bolsista Pibic no grupo A-Tevê. Fiz especialização em roteiro, diversos cursos na área, inclusive uma oficina em Cuba, na EICTV, escola idealizada por García Marquez. Em 2014 finalizei minha pesquisa de mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo, tendo como objeto as representações na série "Ó Paí, Ó". Tenho experiência também com direção e roteiro de conteúdos audiovisuais em televisão, cinema independente, web e outras plataformas. Atualmente dedico-me à minha produtora, a Movida Conteúdo, e trabalho entre Salvador e São Paulo.

Recentemente, você lançou o seu primeiro livro pela Edufba, “Ó Paí Ó: ritmo e cultura da Bahia na TV”. Como surgiu a ideia de estudar representatividade baiana na televisão?

Eu me mudei para São Paulo em 2011 e já estava pensando em um projeto de mestrado. Sabia que seria algo relacionado à televisão, teledramaturgia e identidades, que eu já estudava. Estar em outro estado me fez pensar-me ainda mais como baiana e sentir o quanto sou encantada pelas referências culturais do local onde nasci. Lembrei que os espetáculos do Bando de Teatro Olodum me abriram horizontes de pensamento e sensibilidade ainda na adolescência; e que depois cheguei a dirigir documentários sobre música e outras artes baianas na TVE. Então a pesquisa, que virou o livro “Série Ó Paí, Ó: ritmo e cultura da Bahia na TV” foi uma junção de alguma experiência acadêmica e profissional no campo audiovisual, com minha inquietação de falar, pensar, refletir possíveis identidades e a dimensão mágica da cultura.

No mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra e termos a capital do Estado (Salvador) como uma das maiores cidades de população negra no mundo. Como você avalia as representações do negro na TV?

Essa é uma pergunta que precisa ser cada vez mais feita a todos, e principalmente a pessoas negras. Acho que só ouvindo muito os afrodescendentes vamos ter a real noção de quem é essa enorme população brasileira em toda a sua diversidade e de que muitas maneiras ela gostaria de ser representada. Como pesquisadora, cidadã, percebo que infelizmente a representação do negro na TV ainda é escassa e carregada de racismo, que é algo que paira em camadas densas na nossa sociedade e é muito perverso. Mas há movimentos de mudança, o seriado Mr. Brown é um entre tantos exemplos. O negro precisa ser representado por si próprio, por pessoas conscientes de sua negritude expressando-se, esse protagonismo é básico para qualquer mudança efetiva. Eu sou uma pessoa apaixonada por cultura e nasci em Cachoeira, me mudei para Salvador aos 17 anos. Logo, é claro que a cultura negra me tocou desde cedo porque ela é abundante aqui, é linda, rica, complexa. Penso que essa musicalidade latente e tantos outros traços são qualidades de uma expressiva inteligência, de sensibilidade para perceber o mundo, é de uma matriz que foge aos maniqueísmos e polaridades ocidentais. Tenho muito orgulho de ser baiana e de ter recebido e buscado referências de matriz africana. E eu não sou negra, se fosse me orgulharia ainda mais.

Como pesquisadora da área, existem diferenças entre as adaptações e narrações do teatro para a televisão de uma mesma obra? O que se perde no caminho entre os dois formatos?

Acho que não é o caso de haver perdas, mas diferenças, sim. O teatro é o campo da arte dramática em extrema liberdade, a televisão passa por uma série de ingerências econômicas, modos industriais de produção que delimitam mais os formatos, apesar de haver espaço para quebras. Mas as duas coisas são interessantes e necessárias, penso. No caso de Ó Paí, Ó, entre a peça e a série há muitas diferenças, entre elas a estrutura de roteiro, já que a série tem vários episódios etc. Os diálogos seguem uma mesma linha e tom, muitos dos personagens são os mesmos, mas é nítido que houve um trabalho de enxugamento das gírias e expressões locais nas falas da série. Muitas delas permaneceram, o sotaque baiano marca todo o produto, mas algumas partes da peça talvez não fossem compreendidas em outras regiões do país, especialmente no consumo televisivo, que é disperso. O livro descreve, por exemplo, as primeiras cenas dos seis episódios da primeira temporada que têm a função de explicar os diferentes usos da expressão “Ó Paí, Ó”.

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Vamos ler mais e da melhor forma possível: abrindo-nos a muitas possibilidades de sentido. Os textos que escrevemos também são resultados de leituras, não apenas da palavra escrita, mas dos códigos em múltiplas linguagens, da vida. Além disso, gostaria de compartilhar com o leitor a alegria de ter publicado pela Edufba. O processo é idôneo, claro e e para mim esta é uma grande oportunidade.

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