Doutor Rodolfo Teixeira
É com grande satisfação que a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) traz, no Espaço do Autor, uma entrevista com o Doutor Rodolfo Teixeira, professor emérito da UFBA e médico infectologista que se dedica à medicina a mais de 60 anos. Ele é um dos profissionais de medicina mais conceituados do estado, e publicou a obra Memória histórica da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus (1945-1995), pela EDUFBA, que recentemente ganhou a sua primeira reimpressão. Nesta entrevista falamos sobre sua trajetória profissional, a obra, e seus futuros projetos. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Daniele Marques
14/03/2013
1 – O senhor possui mais de 50 anos de carreira dedicados à medicina. Como surgiu o interesse em se profissionalizar nesta área? Desde menino que eu pensava nisso. Quando eu passava por diante da Escola de Medicina, eu tinha vontade de entrar. A minha irmã comentava sobre esse meu interesse, que aconteceu de forma muito natural. Eu não quis ser nada diferente na vida, sempre quis fazer medicina, e depois de 62 anos de médico, não me arrependo nem um instante. Foi uma decisão natural, bem recebida e bem aceita, e dou graças ao destino por ter feito isso. 2 – Conte-nos um pouco sobre a sua experiência como aluno na Faculdade de Medicina. A Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus tem uma sacra, uma atração toda especial, então pra mim, quando entrei na escola, foi como alcançar uma coisa muito querida. A Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus tem uma história, lá nasceu toda a cultura médica, foi a primeira escola de medicina do Brasil. Ela é uma terra sagrada - o Terreiro de Jesus é uma terra sagrada. Eu fiquei muito satisfeito com o que estava fazendo. Tudo o que eu via era o que eu queria. Nada me faltava. 3 – Em 2008 o senhor recebeu o título de Professor Emérito pela Universidade Federal da Bahia, concedido aos profissionais que se destacam na sua área de atuação. Como foi, para o senhor, receber este reconhecimento? Recebi com simplicidade e com a certeza de que foi uma meta alcançada. Fico satisfeito plenamente, pois é o maior título da carreira universitária. Eu nunca pensei que pudesse chegar até aquele momento em que fui aplaudido, espontaneamente, pela comunidade universitária. Interrogo-me qual o melhor resultado do esforço que fiz, em todos esses anos de minha vida, na Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, espaço que tanto amo e respeito. Creio que foi o de ter ajudado a construir e amparar vocações de homens, médicos, de caráteres e personalidades, capazes de terem consciência da sua verdadeira missão, dotados da vontade de construir e de ser leal com a vida. 4 – O que o levou a escrever o livro Memória histórica da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus (1945-1995)? A Faculdade de Medicina tinha, desde 1854, uma norma solicitando que, a cada ano, um professor escrevesse a história que se passou no ano em que ele viveu na instituição. Até 1942 a norma funcionou, embora algumas vezes irregularmente. De 1943 até a data em que escrevi o livro, não houve publicações, então o primeiro motivo foi esse: voltar a obedecer à história. Quando fui solicitado pela congregação da Faculdade de Medicina, o livro já estava pronto, pois quando me aposentei, achei que devia deixar alguma coisa escrita. A 1ª edição do livro foi, dessa forma, pessoal. Quando recebi o título de professor emérito, o reitor Heonir Rocha teve a ideia de publicar essas memórias, e esta foi a 2ª edição. A 3ª edição do livro é um gesto das entidades da Associação Bahiana de Medicina (ABM), que patrocinaram a sua publicação. 5 – O senhor tem algum novo projeto em mente? Pretende lançar um novo livro? Eu tenho. Reunir minhas crônicas, aspectos da profissão que eu vivi, as publicações em revistas, discursos das formaturas em que fui paraninfo, o diploma de mérito médico, teses... Tudo já está escrito e agora estou arrumando para publicá-los. 6 - Deixe uma mensagem para os leitores da EDUFBA. O livro Memória histórica da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus (1945-1995) representa o que eu fui e o que eu queria ser. Não foi muito, mas foi o suficiente pra me deixar tranquilo diante da vida. Eu reuni nele toda uma vida profissional, médica e toda uma vida docente, de professor. O que eu posso dizer para os leitores da EDUFBA é que esse livro representa a minha realização. Dizem que para a vida valer a pena você precisa plantar uma árvore, ter uma descendência e escrever um livro. Como profissional, professor e médico, me sinto realizado aos 84 anos de idade.