Edson Fernando Dalmonte
Este mês, apresentamos no Espaço do Autor EDUFBA um bate-papo com Edson Fernando Dalmonte, que publicou, em 2009, o livro Pensar o discurso no webjornalismo: temporalidade, paratexto e comunidades de experiência. Fruto de sua tese de doutorado, a obra trata, dentre outros assuntos, das questões contratuais nos meios de comunicação, das estruturas jornalísticas e das renovações tecnológicas e discursivas do fazer jornalístico na web. Conversamos nesta entrevista sobre as diferenças e similaridades técnicas entre webjornalismo e jornalismo impresso. Também falamos um pouco da trajetória acadêmica percorrida pelo professor, doutor em Comunicação e Culturas Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e também autor do livro Mídia: fonte e palanque do pensamento culturalista de Gilberto Freyre (EDUFBA/2009). Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
Por Lara Bastos e Daniele Marques
01/11/2012
1 - Você já teve passagens em universidades em São Paulo, cursando mestrado, e no Espírito Santo, cursando a graduação. Por que escolheu realizar seu doutorado na Bahia e o que te motivou a ingressar na UFBA como professor? Optei por fazer o doutorado no PósCom UFBA por ser um programa de excelência na área de Comunicação e que agrega, desde sua origem, importantes pesquisadores. Ingressar como docente em uma universidade como a UFBA é importante para a consolidação da carreira de qualquer pesquisador, sem dúvida. 2 - Você acredita que existe um discurso próprio do webjornalismo ou, apesar de ser um fenômeno recente, o webjornalismo (re)aproveita o discurso típico do jornalismo impresso? Todo discurso traz em sua composição marcas de outras modalidades discursivas. Ao analisarmos os suportes tecnológicos encontramos elementos retrô que são empregados na composição de narrativas contemporâneas. Que encontramos, por exemplo, num telejornal? Encontramos elementos textuais tradicionais, áudio, como no rádio, captação, tratamento e veiculação de imagens, como no cinema, que misturados compõem uma narratividade própria. O jornalismo na web, ou em bases digitais, também se apropria de linguagens e técnicas, mas faz surgir tantas outras. Por exemplo, estamos cada vez mais próximos dos fatos, numa perspectiva temporal, tendo em vista a constante circulação de informações, em detrimento de um jornalismo marcado por rígidas grades de horário. 3 - O discurso midiático estabeleceu hierarquias a fim de definir quais fatos podem se tornar notícia. O webjornalismo está livre destas hierarquias ou desenvolveu suas próprias? Quais seriam elas? Importante fator é aquilo que chamamos “critérios de noticiabilidade”, ou seja: um conjunto de critérios que ajuda a dar objetividade ao processo de seleção de acontecimentos que podem passar à categoria de notícia. No jornalismo tradicional, como impresso e televisão, há um espaço limitado, como numa página, ou num telejornal, e cada assunto ali presente foi selecionado em meio a muitos outros, que ficaram de fora. Dessa forma, há muito mais liberdade se pensarmos nas potencialidades da web. Muito mais assuntos passam a circular em ambientes jornalísticos, inclusive conteúdos produzidos, ou captados, por usuários (cidadãos). A partir das redes sociais, surge um modelo de hierarquia com base em índices gerados por leitura, acesso, tópicos mais “curtidos”, compartilhados etc. 4 – Até que ponto a “promessa do tempo real” é uma realidade na produção de notícias para a web e até que ponto é propaganda dos portais de notícia online? A promessa do “tempo real” é um dispositivo de desenvolvimento de interesse junto a leitor, pois o “tempo real” é o tempo próprio das coisas, em seu acontecer. Como jornalismo é narrativa, e isso requer um deslocamento temporal mínimo, para que o narrador pelo menos organize as ideias e interprete o que se passa, ao jornalismo compete falar ou do passado, ou tentar antecipar o que está por vir, por meio de conjecturas. Mas é inegável que as novas tecnologias têm nos propiciado experimentar outras aproximações em relação aos acontecimentos do mundo... estamos cada vez mais próximos dos fatos, conectados uns aos outros. 5 – O webjornalismo é uma das grandes transformações do fim do século XX e início do XXI. Em sua opinião, o webjornalismo veio para suplantar o jornalismo impresso? O jornalismo impresso é uma modalidade de fazer jornalismo, com base numa forma específica de suporte, o papel. Por meio dos novos aparatos de leitura, como tablets, e toda sorte de dispositivos móveis, cada vez menos o jornalismo em papel parece ser relevante, pois afasta temporalmente o leitor em relação aos fatos. 6 - Deixe uma mensagem para os leitores da EDUFBA. Gosto muito de ler e me tornei leitor na mais completa adversidade, pois em minha infância não havia livros por perto. Por obra do acaso, hoje tenho em minha vizinhança, no meu ambiente de trabalho, a Faculdade de Comunicação, não apenas uma Biblioteca, uma Livraria, mas uma Editora... isso é sensacional!! A EDUFBA tem feito um excelente trabalho e hoje é destaque entre as editoras universitárias. Dentre as inovações, o Repositório Institucional da UFBA, com a disponibilização de obras de livre acesso, e o início da produção de livros digitais. Da UFBA para o mundo! Parabéns Flávia e toda equipe!!