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Fernando Reis do Espírito Santo

No dia 1º de setembro de 1998, foi assinada a lei federal que regula a atuação do Profissional de Educação Física. Neste mês, o Espaço do Autor EDUFBA faz uma homenagem a essa data, apresentando uma entrevista com Fernando Reis do Espírito Santo, um dos responsáveis pelo livro Educação Física: currículo, formação e inclusão. Neste bate-papo, conversamos sobre o processo de concepção do livro, o atual papel da Educação Física na sociedade contemporânea e os principais pontos abordados nesta obra.

Por Laryne Nascimento 01/09/2012

1 – Conte-nos um pouco sobre sua trajetória acadêmica. Minha trajetória acadêmica começou em 1987, quando ingressei na UNEB como professor. Em janeiro de 1990, cheguei à UFBA através do primeiro concurso público que a Universidade fez após a ditadura militar. Nesse mesmo ano, conheci Cesar Pimentel, que foi meu aluno, e nos tornamos amigos. Em 1992, juntamente com dois professores, criamos o primeiro núcleo de pesquisa em Educação Física na Bahia e especialmente na UFBA, o NEPEEL. Em 1992, conheci Christiane Luna que, além de aluna, também participou deste grupo. Em 1994, conclui o mestrado na FACED/UFBA, na área de Currículo e Formação do Professor e, em 2003, o doutorado na PUC/SP, nesta mesma área. Em 2003, quando retornei à UFBA, afastei-me do NEPEEL porque já não havia nada do que eu havia deixado. O antigo Núcleo se tornou uma linha de pesquisa, o perfil era outro, completamente diferente do que foi criado. Nesse ano, voltei a lecionar e conheci Leonardo Duarte.  Criamos uma grande afinidade teórica e de projetos para o Curso de Educação Física na UFBA. Resolvemos criar o Grupo CORPO, que hoje tem uma relação muito estreita com o NEPEEL da UESB/Jequié, recentemente criado pelo Prof. Dr. Cesar Pimentel, pela Profa. Christiane Luna e pelo Prof. Leonardo Duarte. Todos ex-alunos da UFBA, mas atuais professores da UESB/Jequié. Portanto, a minha trajetória acadêmica confunde-se com a vida acadêmica dos outros autores desse livro, o que demonstra a afinidade e afetuosidade construída ao longo desses anos no nosso convívio na UFBA. 2 – E como surgiu a ideia de realizar esta obra? Nos caminhos entrecruzados por nós quatro, tivemos muitos momentos de alegria, bate-papos, debates, divergências etc., sempre na perspectiva de organizar as nossas inquietações em forma de conhecimento sistematizado. Vale lembrar que, nos Congressos, viagens e nas nossas universidades, esses encontros sempre foram regados a vinho, comida, música e muita risada. Porque assim entendemos ser, também, uma forma de criar e sistematizar saberes. Portanto, o assunto “livro” sempre esteve nas pautas das nossas rodas de conversas. Mas, no final de 2010, fizemos uma viagem para um Congresso em Porto Alegre e lá nas nossas andanças chegamos à conclusão de que já estava na hora de colocar essa ideia em prática. 3 – Como vocês avaliam a atual formação curricular do profissional de Educação Física? Ela está de acordo com as exigências do mercado de trabalho? Tenho receio quando se fala de “mercado”, porque esse termo tem atrapalhado bastante os debates sobre a formação do professor de Educação Física. Quando falamos nesse tal mercado, tanto os estudantes quanto alguns professores que não conseguem enxergar um pouco mais longe a formação começam a concentrar forças de forma muito pragmática em formar mão de obra para atender a esse mercado que está aí. Penso que formar professores é muito mais que isso. Precisamos de mais que professores, precisamos de “educadores”, no sentido mais amplo da palavra e do que significa o ato pedagógico. Por exemplo, apenas recentemente foi estabelecido o termo “Profissional de Educação Física”, que deve ser utilizado no lugar de “educador físico”. Entendo que independente do campo em que estejamos atuando, seja Escola, Academia, Clube, Hotel, Personal, estaremos realizando, sempre, uma ação pedagógica. Portanto, somos professores. Se todos são “educadores”, já não posso afirmar. Porque, para mim, o educador vai além dos conteúdos e o seu nível de envolvimento com o ato pedagógico transcende a sala de aula. Por isso, considero um equívoco quando ouço “educador físico”.  O que é preciso ressaltar é que, seja lá qual for a sua formação, esse “profissional” ou “professor” deve ser um profissional qualificado, competente, estudioso, pesquisador, com um capital cultural amplo e, sobretudo, com uma formação intelectual adequada para ocupar o espaço em que estiver. Isso é mais importante! 4 – No livro, vocês debatem a relação entre a Educação Física e as pessoas com deficiência. Atualmente, há políticas de inclusão eficientes que possibilitem que essas pessoas pratiquem atividades físicas? Quanto às políticas, elas existem e estão, de certa forma, avançadas, de acordo com esforços, inclusive internacionais, para um educação voltada para a inclusão.  A partir da década de 1990, muito foi feito para diminuir a exclusão das pessoas com deficiência na escola. Apesar de muitos esforços, ainda não temos uma educação inclusiva de qualidade, em parte porque a educação não tem sido adequada nem para pessoas sem deficiência. O modelo escolar atual ajuda a excluir e silenciar o diferente. Apesar dessas mazelas, a realidade tem sido modificada aos poucos, por exemplo: o aumento de crianças e adolescentes em classes regulares, o acesso a universidades (inclusive em programas de pós-graduação), muitos cursos de capacitação, verbas especificas etc. Tudo isso tem contribuído para reverter o atual quadro. Ainda assim, esse avanço ainda é muito tímido, pois ainda estamos longe de uma permanência com qualidade. No âmbito escolar, por exemplo, é possível constatar que muitos professores não se deram conta da necessidade de mudanças nos seus programas de ensino para atender a essa nova demanda. Em relação à Educação Física, é possível ver que, em muitos casos, o acesso às vivências práticas em jogos, esportes, ginásticas, lutas etc. são restritos. Alguns professores chegam, em suas aulas, a pedir aos alunos com deficiência para arbitrar ou fazer relatórios. Ingenuamente e/ ou por falta de informação, eles acham que estão incluindo o aluno com deficiência só pelo fato de o aluno estar no mesmo ambiente de ensino que os outros alunos da turma. Fora da escola, o acesso é mais complicado ainda, pois o esporte está muito mais presente em instituições particulares e com uma perspectiva da busca do rendimento, o que também acaba excluindo. Exceto projetos específicos em universidades e escolas especializadas, é muito difícil você ver uma pessoa com deficiência em uma academia, em um clube de corrida ou em outro espaço dessa natureza. 5 – Quais são as atividades que estão sendo realizadas atualmente pelo Núcleo de Estudo e Pesquisas em Educação Física, Esportes e Lazer (NEPEEL)? O NEPEEL é um grupo sediado na UESB, campus de Jequié, e tem como pesquisadores os professores José Lúcio, Christiane Luna e César Pimentel, da UESB, Leonardo Duarte, da UEFS, e eu, da UFBA. O NEPEEL e o grupo CORPO, que coordeno na UFBA, constituem a célula motora de diversas intervenções acadêmicas. A partir de quatro linhas de estudos, Educação Inclusiva, Educação Física Escolar, Formação Profissional e Futebol, temos atualmente uma série de projetos de pesquisa e extensão universitárias tanto na UESB quanto na UFBA. Esperamos que este laço institucional, marcado pela amizade entre seus integrantes, possa responder por outros projetos mais à frente. Quem sabe outro livro! 6 - Como você avalia a produção científica na área de Educação Física atualmente? Podemos falar que houve um desenvolvimento desta área nos últimos anos? Seguramente houve um grande desenvolvimento científico tanto na Educação Física quanto no Esporte. É inegável o avanço dessas áreas. O número de doutores, grupos de pesquisa, bolsas de iniciação científica é muito maior nesses últimos 10 anos do que todo tempo em que a Educação Física existe. Além de toda produção teórica dentro das universidades, há os avanços significativos no campo do Esporte, que é um fenômeno sociocultural que mantém uma ótima relação com a Educação Física. Uma coisa importante de salientar é que os laboratórios nos quais acontecem as grandes e principais pesquisas nessa área, principalmente no campo do treinamento desportivo de alto rendimento, têm sempre um professor/pesquisador da área da Educação Física fazendo parte ou até liderando grupos de pesquisa. 7 – Deixe uma mensagem para os leitores da EDUFBA. A mensagem que posso deixar para os possíveis leitores desse nosso ou de outros livros que têm a marca da EDUFBA não poderia ser outra: quando se trata de livros da EDUFBA, não pensem duas vezes, leiam, mergulhem nas produções, porque além do rigor e da qualidade que são critérios fundamentais para se publicar por essa Editora, seguramente o conteúdo guardado através da palavra escrita qualificará o leitor pela escolha da obra. Vejam esse nosso livro como um ato de ousadia, na medida em que ele traz o tema Educação Física, e sua relação com o Currículo, Formação e Inclusão, para circular entre as grandes obras organizadas e recomendadas por essa Editora. Obrigado à EDUFBA por acreditar e apostar na nossa produção. Forte abraço e até a próxima!

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