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Leandro Colling

Edufba: Conte um pouco sobre sua vida e trajetórias acadêmica e profissional.

Leandro Colling: Eu nasci no interior do Rio Grande do Sul, em uma pequena cidade chamada São Martinho. Fiz graduação em jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, e, em 1998, vim continuar meus estudos na UFBA, onde realizei o meu mestrado e doutorado na Faculdade de Comunicação. Ao terminar o doutorado, em 2006, decidi mudar de área de pesquisa e passei a me dedicar exclusivamente aos estudos da diversidade/dissidência sexual e de gênero. Isso aconteceu especialmente a partir de 2007, quando criamos o grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade, o CUS, que em 2018 se transformou em Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades, o (NuCuS), vinculado ao Ihac, onde sou professor desde 2009.

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Edufba: Como a revisão dos estudos sobre sexualidades e gênero podem renovar a produção acadêmica?

LC: Os estudos da diversidade/dissidência sexual e de gênero já renovaram a produção acadêmica e ainda continuarão renovando. Apenas para citar um exemplo dessa renovação aponto para o fato de como os estudos da sexualidade passaram, nos últimos anos, a dialogar de forma mais intensa com os estudos de gênero e vice-versa. Penso que essa transformação aconteceu, em boa medida, em função do desenvolvimento dos estudos queer no Brasil, que passaram a pensar sexualidade e gênero de forma interseccional. Antes, os estudos da sexualidade estavam bem apartados dos estudos de gênero. Outra transformação aconteceu na ampliação da categoria gênero.

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Edufba: O uso do termo “dissidências” no título foi escolhido como uma provocação antecipando as reflexões da obra?

LC: Nos meus livros, a primeira vez que usei o termo dissidências foi no livro “Que outros sejam o normal”, lançado em 2015, pela Edufba, e que foi traduzido ao espanhol em 2019, quando foi publicado pela editora Egales. Eu conheci esse termo ao realizar a pesquisa que gerou esse livro. Isso aconteceu no Chile, quando entrevistei um ativista, chamado Felipe Rivas, do Coletivo Universitário de Dissidência Sexual. Eles tinham mudado o nome do coletivo, que contava com a palavra diversidade e que foi substituída por dissidência e eu perguntei o porquê dessa mudança. Aí ele me respondeu que diversidade dava uma ideia de que todos estão no mesmo patamar dentro dessa diversidade, que dialoga com uma perspectiva multicultural neoliberal. Eu liguei essas reflexões com outras já realizadas no mesmo sentido por Stuart Hall e Tomaz Tadeu da Silva e, a partir daí, comecei a usar a ideia de dissidência como distinta da ideia de diversidade. Ainda em 2015, realizamos o II Seminário Internacional Desfazendo Gênero, com o tema Ativismos das dissidências sexuais e de gênero, que posteriormente gerou o livro “Dissidências sexuais e de gênero”. E em 2019 lançamos o livro “Artivismos das dissidências sexuais e de gênero”, que trata sobre artistas do Brasil que estão questionando as normas de gênero e sexualidade de uma forma muito intensa nos últimos anos.

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Edufba: Diante de um cenário político polarizado, qual a importância de estabelecer uma discussão como as produzidas pelos seus livros?

LC: Eu penso que os nossos livros nos ajudam a entender que esse cenário político foi construído bem antes da eleição do presidente Jair Bolsonaro. Além disso, os livros evidenciam por que os conservadores e fundamentalistas odeiam tanto as pessoas LGBTQI+ e todas as pessoas que questionam as normas de gênero e sexualidade. O Brasil nunca foi um paraíso para as pessoas LGBTQI+, mas as lutas políticas desses coletivos junto com o aumento da produção de conhecimento nas universidades sobre esses temas desenvolveram um papel e obtiveram um impacto muito grande na sociedade. Em alguma medida, o conservadorismo se uniu para combater esses avanços, mas nós estamos resistindo bravamente, mesmo com corte de recursos, perseguições e até ameaças de morte.

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Edufba: Deixe uma mensagem para os seus leitores e leitoras.

LC: Ajudem a divulgar a produção de conhecimento publicada pela Edufba. Ainda temos muita dificuldade de distribuir os livros pelo Brasil, mas hoje boa parte deles está disponível no Repositório Institucional da UFBA. Precisamos de mais aliados e aliadas nessa divulgação porque a nossa produção é de excelência.

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