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Livio Sansone

No dia 20 de novembro celebra-se o Dia da Consciência Negra. E para marcar a data, a Editora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) traz, no Espaço do Autor deste mês, uma entrevista exclusiva com Livio Sansone, organizador de cinco livros lançados pela Edufba, entre eles: Memórias da África: patrimônios, museus e políticas das identidades e Raça: novas perspectivas antropológicas.

Graduado em sociologia pela Universita degli Studi La Sapienza, Livio Sansone tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia das Populações Afro-Brasileiras e dos estudos africanos. Atualmente é professor associado de antropologia na Universidade Federal da Bahia e pesquisador do Centro de Estudos Afro-Orientais da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, além de integrar o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos.

 

1. Além de professor de antropologia na UFBA e pesquisador do Centro de Estudos Afro-Orientais da universidade, o senhor integra o Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos. Conte-nos sobre a sua trajetória na área e como surgiu o interesse por Antropologia das Populações Afro-Brasileiras.

Comecei a me interessar pelas relações e hierarquias raciais já no meu mestrado em sociologia defendido em 1980, quando pesquisei punks e rastas em Londres. Em 1980 me mudei para a Holanda, onde fiz mestrado e doutorado em antropologia na Universidade de Amsterdam, pesquisando as transformações da grande comunidade surinamesa que migrou para o país. Em 1992, ano da defesa do meu doutorado, recebi um convite do CNPq para realizar pesquisas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, em seguida, na UFBA. Fiquei até 1996 na UFBA como professor visitante, tendo sido um dos iniciadores do Programa “A Cor da Bahia” e o coordenador do grupo de pesquisa SAMBA (Sociontropologia da música na Bahia). De 1996 a 2002 morei no Rio de Janeiro, onde dirigi o Centro de Estudos Afro-Asiáticos da Universidade Candido Mendes.

2. Como geralmente acontece o processo de pesquisa para os livros que o senhor organiza? Quais são os principais obstáculos enfrentados nestes momentos?

A pesquisa é sempre o resultado de uma mistura de curiosidade e acidentes de percurso. Nunca as coisas saem da forma inicialmente planejada. Diria que o maior obstáculo aqui na Bahia  são três: falta de boas bibliotecas, falta de interlocução com outros colegas  (porque na UFBA pouco tem se cuidado do convívio entre pesquisadores) e falta de tempo para se dedicar à pesquisa – que muitas vezes tem que ser realizada nas férias, à noite ou nos fins de semana.

3. Na introdução de Memórias da África: patrimônios, museus e políticas de identidades, o senhor afirma que nas últimas décadas tem-se observando uma significativa mudança na forma pela qual a África é vista e representada no Brasil. Quais questões o senhor acredita que ainda precisam ser debatidas e desenvolvidas no que tange essa relação?

Precisa de um estímulo, de uma política de indução dos estudos em contextos fora do Brasil, até como forma de incentivar uma perspectiva mais internacionalizada sobre os factos sociais brasileiros. Gostaria de poder perceber um maior esforço com relação à política de intercâmbio na região – algo com o mesmo impacto que o grande projeto Erasmus teve na Europa. A UFBA pode fazer muito mais neste sentido.

4. Qual seria o papel da universidade no processo de conscientização política da sociedade no contexto das relações raciais?

A universidade sempre foi um lugar onde também se produziu diversidade. Muitos entram mulatos e saem negros. Porém, a universidade não deve ser uma máquina para produzir identidades, mas um grande mecanismo de produção do conhecimento. E isto pode contribuir para dinamizar e enriquecer o processo indenitário.

5. No dia 20 de novembro comemora-se o Dia da Consciência Negra. Para o senhor, qual é o significado desta data?

É importante que se marque uma data nacional para a luta contra o racismo. Poderia ter sido o 13 de maio, se tivéssemos acompanhado as várias celebrações populares da abolição em nosso território, mas acabou sendo uma data outra, menos comprometida com a Princesa Isabel. O 20 de maio, em termo de memória popular, é uma obra de engenharia social, mas necessária.

6. Você tem outros projetos em andamento atualmente? Pretende escrever ou organizar outros livros?

Estou escrevendo dois livros. Um primeiro sobre a relação entre o gabinete do antropólogo físico e criminalista Cesare Lombroso e a América Latina e a África; e um livro menos denso sobre a trajetória intelectual do primeiro presidente da Frente de Liberação de Moçambique, Eduardo Mondlane, doutor em sociologia e professor de antropologia.

7. Deixe uma mensagem para os leitores da Edufba.

Leiam muito. Escrevam muito.

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