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Miguel Almir Lima de Araújo

Autor do livro que fez parte dos dez mais vendidos em 2016, Miguel Almir Lima de Araújo conversou com a EDUFBA neste mês de agosto e falou um pouco sobre seu último lançamento, “Dos Sentidos do Amor”. Na obra, o autor aborda a complexidade do amor e seus sentidos, forçando seus leitores a pensar, por exemplo, sobre o que aconteceu com a vivência e a partilha do amor nas vidas cotidianas.

Miguel Almir Lima de Araújo é professor pleno da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), doutor em educação. Coordena o Núcleo de Investigações Transdisciplinares (NIT/UEFS/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atravessa as áreas da filosofia, arte, cultura e educação. Últimos livros publicados: "Os sentidos da sensibilidade: sua fruição no fenômeno do educar", "Sertania: sabenças de uma saga agridoce" e "Silêncios de ventania".

Nesta edição do Espaço do Autor, o doutor em educação fala sobre suas experiências com o tema “Amor”, a relação entre o consumismo e sua relação com o amor, seu outro título, “Os Sentidos da sensibilidade: sua fruição no fenômeno do educar”, além da sua trajetória na sua linha de análise.

1.    Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional e acadêmica.

Tenho formação em Filosofia, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFBA. Sou professor da UEFS. Coordeno o Núcleo de Investigações Transdisciplinares-NIT. Transito, de modo geral, pelas searas da Filosofia, da Arte, da Cultura e da Educação.

2.    Não é seu primeiro escrito abordando sentimentos. O que levou a abordar o tema “Amor” por essa linha?

Lancei também, em 2008, pela EDUFBA, o livro “Os sentidos da sensibilidade: sua fruição no fenômeno do educar”. Envolvem-me e mobilizam-me as travessias pelas intensidades das temáticas que atravessam a nervura do humano, sobretudo pelas vertentes da subjetividade/intersubjetividade, do existencial/coexistencial, dos valores primordiais que nos constituem ontologicamente.

O tema do Amor como um dos mais imponderáveis e estruturantes dos valores humanos primordiais, me impulsionou aos desafios intensos de procurar ruminá-lo, pesquisá-lo na tentativa de contribuir para que possamos cuidar mais e melhor dessa forma de expressão tão visceral e vital.

3.    Qual sua experiência com o tema “Amor”?

A temática do Amor me espanta e me impulsiona desde muito tempo pela supremacia de sua relevância em nossos existires e coexistires. Desse modo, optei por esta na pesquisa que desenvolvi em minha promoção de carreira para professor pleno (de incompletudes) na UEFS apresentando a tese “Dos Sentidos do Amor” que se converteu na edição do livro pela EDUFBA.

Além das incursões teóricas acerca do Amor, procuro, sobretudo, nas contingências do cotidiano, nas gravitações entre minhas fragilidades e forças, estar cuidando cada vez com mais desvelo das aprendências vivenciais do Amor, do Ecoamor em minhas relações com os humanos e não humanos.

4.    Você discorre e compara as várias visões do amor? Qual a que você mais se inclina a pesquisar? Há um mais interessante?

Tento apresentar no livro meditações/reflexões acerca da complexidade da temática do Amor em seus desvãos incontornáveis, paradoxos e polissemias.

Portanto, garimpar os confins imponderáveis desta temática se configura num desafio hercúleo.

Nas trilhas do livro atravesso os campos do Amor Pornéia (instinto), Amor Eros (paixão, sentires), Amor Philia (amizade) e Amor Ágape (fraternização universal). Realço a compreensão do Amor como força irradiante, como núcleo seminal que constela a energia vital, a sinergia que nos entrelaça; como compreensão e postura que implica no cuidado com os valores humanos primordiais como a solidariedade, a compaixão, o bem comum, a equidade, a liberdade, a humildade... Valores que nos conduzem às buscas da dignidade e da boniteza humanas.

5.    O que seus leitores devem esperar “Dos Sentidos do Amor”?

Creio que os/as leitores/as do livro podem encontrar provocações, ponderações, meditações que potencializam diálogos, percepções, sensações que venham a expandir o horizonte compreensivo acerca da temática. Imagino que este livro compele-nos a uma travessia sinuosa que pretende singrar os vãos do saber e nos conduzir às buscas de sabedorias pelos flancos em que podemos, de modo mais vasto e intenso, ousar fruir e vivenciar a nobreza do Amor, do Ecoamor.

6.    Você cita a relação do consumismo com a mudança no que é amor. O amor seria mais superficial? Menos orgânico?

Com a predominância das lógicas do consumismo em que os seres humanos tendem a ser reduzidos a homo consumans, a terem suas vidas reguladas pela máxima do “consumo, logo existo”, o Amor, em suas dimensões mais vastas e fundas, tende a ser descartado e desqualificado sendo reduzido a mero objeto utilitário de consumo. Essa predominância tende a converter as pessoas em artefatos mercantis, em máquinas frias e produtivas desprovidas de sensibilidade, dos repertórios de valores que dignificam a humanidade do humano.

7.    Ainda na ideia do “eclipse do Amor”, abordado no capítulo 2. Como você chegou nessa analogia?

Numa sociedade em que prevalecem os emblemas e modelos que privilegiam os ditames do ter, os valores do ser ficam esmaecidos, comprimidos e até excluídos. Portanto, nesse cenário, o Amor fica eclipsado, desqualificado.

Este não se reduz às lógicas funcionais do cálculo. O Amor é da esfera da gratuidade, do despojamento, da fineza do ser.

8.    O que o amor representa para os seres humanos? Fale um pouco sobre o Ecoamor.

Parece-me que já falei um pouco acima sobre os sentidos do Amor para nós humanos.

Em nosso processo civilizatório primamos pelo humanismo - apesar dos tantos processos de desumanização - e desconsideramos a perspectiva do ecohumanismo. Predomina a ideia de que somos o centro do universo e de que os demais seres vivos são periféricos, nossos serviçais.

Nas últimas décadas tem se propagado com mais amplitude a compreensão de que todos os seres que constituem o planeta terra são interdependentes e complementares em dimensões e proporções diversas, de modo tangível e intangível. Assim, a imagem/ideia do Ecoamor apresenta a compreensão de que não precisamos amar apenas os seres humanos – o que já se traduz numa tarefa difícil –, mas a todos os seres que conosco compartilham a teia viva e movente do nosso co-pertencimento ao ecossistema. Seres com os quais somos todos interligados e, direta ou indiretamente, coimplicados na composição polifônica da sinfonia cósmica.

9.    Deixe uma mensagem para os leitores da Edufba.

Que, num mundo cada vez mais imundizado, barbarizado, possamos ter o senso de espirituosidade, o espírito de fineza, a coragem e a paixão pela vida para envidarmos compassos altaneiros nos desafios das buscas da utopia do cuidado com os valores humanos primordiais que nos dignificam e embonitam. Que muito mais que apenas buscar saber, ousemos garimpar os fulcros da sabedoria; urdir a teia policrômica do Ecoamor!

Eis algumas estrofes de cordel que sintetzam o tema. Se achares pertinente incluir também...

Os desvãos do Amor

O Amor tem múltiplos sentidos

nos desvãos de sua complexidade

pelas curvas de suas encruzilhadas

singramos as trilhas da ambiguidade

os paradoxos de seus imponderáveis

e os ermos de sua imensurabilidade.

O Amor é força motriz e nutriz

que viceja os laços do co-existir

o pulsar de seus desafios libertários

nos convoca ao constante transgredir

nos ritmos de suas metamorfoses

renovamos e alumbramos o devir.

O Amor pode ser traduzido

como fulcro de energia vital

fonte inesgotável que vivifica

como feixe irradiante e seminal

constelar de fluxos existenciais

vicejar do sentido primordial.

Como cuidado com valores humanos

com a equidade e com a compaixão

com o bem comum, com a dignidade

com os laços vivos de solidarização

com a lógica do compartilhamento

com o labutar pela ecohumanização.

Amor como desvelo no lapidar

do espírito de ternura e de fineza

da teia viva que nos entrelaça

fruição do admirável e da boniteza

como pulsar dos fluxos de mutação

que dão ritmo, intensidade e nobreza.

Os horizontes vastos do Ecoamor

bordam os elos da interligação

entre todos os seres viventes

na sinergia da roda da religação

em que somos interdependentes

nos desafios da ecofraternização.

Miguel Almir

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