Milton Moura
O livro A Larga Barra da Baía: essa província no contexto do mundo é uma das publicações que integram a programação do Lançamento Coletivo EDUFBA - Junho de 2011. Neste clima, o Espaço do Autor traz uma entrevista com o professor Milton Moura, organizador dessa obra. Com Bacharelado e Licenciatura em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1981), Mestrado em Ciências Sociais (1986) e Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas (2001) na Universidade Federal da Bahia, Milton Moura é professor associado ao Departamento de História da UFBA, onde também atua nos Programas de Pós-Graduação em História e Ciências Sociais, além do Multidisciplinar em Cultura e Sociedade.
Por Laryne Nascimento 30 de maio de 2011
1 – Como surgiu a ideia de organizar a coletânea de textos que compõem A Larga Barra da Baía? Aconteceu em alguns encontros do Grupo de Pesquisa O Som do Lugar e o Mundo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Percebemos que algumas problemáticas de pesquisa poderiam ser unificadas mediante um eixo comum, qual seja, a relação da Bahia com o mundo, da qual a largura da Baía de Todos os Santos é uma figuração. 2 – Como foi feita a seleção dos ensaios para compor a obra? Pela qualidade dos textos, pela adequação dos textos à proposta e pela pontualidade possível na entrega dos trabalhos. 3 – Em sua opinião, de que modo esta obra auxilia na discussão sobre a atual imagem da Bahia perante olhares estrangeiros? Situando historicamente a Bahia no campo das representações, é possível compreender melhor a nossa inserção nessa imensa teia de significações. Isto não se aplica apenas aos olhares estrangeiros; diz respeito também à nossa auto-percepção. 4 – Como a “baianidade” é entendida, no geral, nesta obra? O senhor acredita que esta “visão” ainda prevalece atualmente? A baianidade é um sistema de representações que começa a se articular nos anos 60, a partir de elementos que já vêm desde o século XIX, e contando com o influxo poderoso das políticas culturais dos governos carlistas. Isto não tem mais vigência, tanto porque os pilares em que se assenta a narrativa da baianidade – o cultivo prazeroso e narcísico da familiaridade, da religiosidade e da sensualidade – sofreram duros reveses a partir do final do século XX, como porque os governantes atuais não vêm investindo nisto. 5 – Após o lançamento deste livro, A Larga Barra da Baía, há planos para a publicação de outras obras de sua autoria? Estou escrevendo sobre o Carnaval de Salvador nos anos 50 e 60, como atividade do Pós-Doutorado que estou desenvolvendo junto à Universidade Federal de Pernambuco. Além disso, penso também em escrever sobre o Carnaval de Ilhéus, que experimentou diferentes modelos de Carnaval e, nesse afã, hoje está sem modelo algum. O resto é segredo. 6 - O senhor coordena o grupo de pesquisa Som do Lugar e o Mundo. Pode falar um pouco sobre o desenvolvimento desse trabalho? Trata-se de um grupo de perspectiva multidisciplinar, tanto na sua composição como na orientação de seus trabalhos. Temos gente de várias universidades e de várias unidades da UFBA. O que unifica nosso olhar é a busca de compreender a relação entre a territorialidade, as expressões artísticas, a etnicidade, enfim, diversas faces e esferas da sociabilidade. Publicamos esse livro e dois vídeos, um sobre o Carnaval de Salvador e outro sobre os festejos do Caboclo de Itaparica. Estamos preparando outro livro, sobre a relação entre territorialidade e identidade; deve sair no início do próximo ano. Trabalhamos também com o IPHAN, na pesquisa visando ao registro da Festa do Bonfim. Além disso, em nossos seminários, procuramos socializar elementos das pesquisas levadas por cada um de nós, colocando no centro, na maioria das vezes, aspectos metodológicos. 7 – Deixe uma mensagem para os leitores da EDUFBA. Compreender a nossa própria cara é um desafio e uma paixão. Nesta empresa, podemos contar com o espelho dos outros e com as intrigações nascidas de nossa própria experiência. A Larga Barra da Baía procura mostrar como a intensidade e a profundidade de nossa relação com o mundo é tão problemática quanto prazerosa. A Baía de Todos os Santos, como o Caribe, é um umbigo do trânsito de diferentes mundos. Estar no mundo desta forma é vertiginoso, uma viagem sem portos seguros.