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Fernando Guerreiro

 

Nascido Fernando Ferreira de Carvalho, o radialista, produtor e diretor teatral Fernando Guerreiro, encontra-se desde 2012 na presidência da Fundação Gregório de Mattos - fundação vinculada à prefeitura responsável pelo desenvolvimento de políticas de Cultura em Salvador e administração de espaços culturais da cidade, como A Casa do Benin, no Pelourinho e o Arquivo Histórico Municipal.

Durante a sua carreira, Guerreiro já assinou a direção de mais de 30 espetáculos de teatro, entre eles grandes sucessos como "A Bofetada" e "Vixe Maria, Deus e o Diabo na Bahia", algumas das obras responsáveis pela popularização e ascensão do teatro baiano por todo o país.

Neste "Espaço do Autor", Fernando Guerreiro fala sobre o livro que propaga as ideias elaboradas pelo seu irmão Manoel José Ferreira de Carvalho, um importante intelectual baiano, ativista social, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia que por anos liderou a pesquisa que se debruçava sobre os eventos de rua e a relação com a cidade, vista atualmente no livro "A cidade efêmera do Carnaval".

Pablo Santana

 1. Apesar de seguirem carreiras em áreas distintas, elas se encontram quando o assunto é Carnaval. Quais são as melhores histórias que você e seu irmão têm dessa época de folia carnavalesca? Muitas. Manoel sempre foi um folião inveterado e me introduziu no mundo do Carnaval. Me lembro que no primeiro ano em que ele me colocou para sair num bloco, o JACU, gostei tanto da folia que arranjei um jeito de me perder da turma e fiquei até o fim do desfile. Resultado: todos entraram em pânico me procurando e acabei tomando uma surra fenomenal de meu pai. Também no Jacu atravessamos uns 500m da avenida sem pisar no chão. Era tanta gente que a lei da impenetrabilidade quase foi vencida. 2. Você tem alguma lembrança sobre como surgiu a ideia de Manoel Ferreira em estudar a relação da cidade efêmera com o Carnaval? Ele sempre apaixonado pela cidade de Salvador e pelo Carnaval. E como arquiteto sempre se interessou pela relação original e única entre estes dois elementos. Daí para o trabalho foi um fluxo natural. 3. De que forma as contribuições feitas pelo seu irmão ajudaram na sua atuação à frente da Fundação Gregório de Mattos? Manuel foi meu grande formador intelectual. Ele me apresentou a cidade em toda a sua beleza e contradição. Como era 10 anos mais velho, sempre funcionou como uma espécie de mentor. Me apresentava aspectos interessantes e originais, além de ser um ótimo gestor de pessoas. Chegou a ser convidado para presidente da FGM, mas não pôde aceitar. Daí o desafio veio como reparação histórica. Tinha que aceitar. A paixão de Manoel pela cidade me contaminou e tinha chegado a hora de dar minha contribuição. 4. Como você avalia a importância do Carnaval, em seu valor de festa popular, que integra, num mesmo espaço e tempo, pessoas das mais variadas faixas etárias, econômicas, sociais e étnicas? Como um retrato da nossa própria realidade. O Carnaval reflete as contradições sociais, políticas e econômicas da época em que estamos vivendo. Coloca uma lente de aumento, mas é um reflexo ampliado. Não acredito que no carnaval as pessoas fiquem mais livres e generosas. Elas amplificam comportamentos de suas próprias vidas. Daí é uma festa muitas vezes discriminatória, homofóbica, segregadora e por aí vai. Não creio no carnaval como éden de purificação. Já era! 5. Como a pesquisa feita pelo seu irmão pode contribuir para o poder público criar um espaço, durante os dias de Carnaval, que segregue cada vez menos?  Norteando um trabalho de forte viés político e ideológico. Tecnicamente está tudo lá. Vai depender da gestão e dos vários atores do Carnaval resolveram enxergar e usar estes elementos. 6.   No livro “A cidade Efêmera do Carnaval” um dos principais pontos colocados sobre pensar a configuração da cidade durante os dias de folia é a questão da expansão da festa para outros pontos da cidade. Analisando o novo arranjo da festa, como você avalia essas mudanças na perspectiva da pesquisa realizada por seu irmão? Este ano tive a oportunidade de visitar vários bairros durante a folia e percebi um Carnaval inclusivo, animado e tranquilo. Vi famílias inteiras se divertindo com alegria e tranquilidade. Precisamos espalhar a festa pela cidade e gerar um movimento contrário a concentração excessiva. Isso vai fazer a Barra respirar e voltar a um Carnaval possível! 7. O que achou da homenagem prestada a Manoel no livro organizado por Edvard Passos? Uma iniciativa urgente e necessária. Ele foi um grande pensador e grande mestre e seu trabalho foi norteador e avançado para a época. Espero que o lançamento gere desdobramentos, como um grupo de estudos por exemplo. 8. Deixe uma mensagem para os leitores da Edufba. Leiam e discutam o livro. Sem isso ele perde a função de gerar pensamentos e ações. Garanto que Manoel estaria realizado se estivesse por aqui e pudesse ver seu trabalho ser retomado.

 

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