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Eduardo Tudella

EDUFBA: Fale um pouco sobre a sua trajetória (pessoal, profissional, acadêmica)

Eduardo Tudella: Olá. Obrigado pelo espaço. Minha trajetória não é breve e muito atarefada. Portanto, uso o modelo norte-americano de resumèe para evitar textos enfadonhos.

Ingressei na Escola de Teatro da UFBA em 1975 para a graduação no Curso Superior: Direção Teatral, depois de haver frequentado um curso de teatro, no antigo nível médio, da mesma escola. Ao concluir, em 1979, Direção Teatral, eu então me transferi para o Rio de Janeiro em 1980, onde cursei Cenografia na UniRio [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro]. Ao final dessa nova graduação, em 1984, retornei para Salvador, afim de continuar meu trabalho na nossa Universidade. Em 1990, fui aceito para o concorridíssimo mestrado da Escola de Artes Tisch da Universidade de Nova York. Concluí o programa no tempo mínimo e retornei ao Brasil, em 1994, para continuar meu trabalho na Escola de Teatro, trazendo o título Master of Fine Arts – Theater Design, até esse momento não outorgado no Brasil. Em 2010, iniciei o doutorado em Artes Cênicas, no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA (PPGAC), que concluí em 2013. Em 2014, fui homenageado com o Prêmio Capes de Teses, trazendo, pela primeira vez, tal honra para o PPGAC-UFBA. Em 2017, sob os auspícios da EDUFBA, foi publicado meu livro, A luz na gênese do espetáculo, que, neste ano de 2018, recebeu o segundo lugar do Prêmio ABEU (Associação Brasileira das Editoras Universitárias), e, mais uma vez, retribuindo-se a generosidade do PPGAC, em abrigar minha pesquisa.

Desde o início dos meus estudos, na UFBA, alio meu trabalho como artista ao de docente-pesquisador, mantendo-me presente e atuante, ao longo desses anos, nos mais relevantes eventos na minha área do conhecimento. Dessa forma, pude compartilhar inquietações com os mais renomados profissionais do meu campo de atividade, e através dos debates e publicações de textos pelos quais minhas pesquisas se atualizam, influenciar e reelaborar, também, meu trabalho como artista.

 

EDUFBA: Como surgiu o interesse pela iluminação teatral?

Tudella: Desde os meus estudos em Direção Teatral, nos anos 1970, contando com a intrepidez da juventude, já me arriscava em tentativas na área. Depois, durante o curso de Cenografia na UniRio, o interesse se ampliou. Assim, decidi estudar a iluminação teatral. Como não era possível encontrar no ensino brasileiro, nem mesmo um curso em nível superior, descobri a pós-graduação em universidades norte-americanas, e, dentre os melhores cursos, escolhi o MFA (Master of Fine Artes) da Escola de Artes Tisch da Universidade de Nova York, de onde trouxe o título, ainda inédito no Brasil: Mestrado para o Design em Artes Cênicas. 

 

EDUFBA: O que diferencia “A luz na gênese do espetáculo” do que já havia sido publicado na área?

Tudella: A simplicidade do problema que originou a pesquisa, jamais tratado na universidade brasileira, mixando a atividade do artista e do pesquisador. Além disso, pude contar com um orientador competente e paciente, o Prof. Dr. Ewald Hackler, que avaliou cada uma das muitas centenas de páginas que escrevi.

 

EDUFBA: Quais são as principais ideias contidas na sua obra?

Tudella: Parto de um problema simples: em que momento o espetáculo exige a presença da luz?

Isso gerou uma hipótese desafiadora: eu desconfiava que as relações entre a luz e o espetáculo se originam em algum momento anterior àquele que o senso comum pode inferir.

Aqui, deve ser incluída a minha compreensão de que mais do que “iluminar”, acionar instrumentos, acessórios e sistemas de controle da luz artificial, é função do lighting designer - cuja versão brasileira é o “iluminador cênico” – a revelação de imagens.

Essa abordagem indica não apenas o imprescindível caráter teórico-filosófico das imagens, em voga há algum tempo na academia brasileira, mas a efetiva elaboração de imagens visuais fisicalizadas na cena, o que exige formação como designer, mixada com aquela do artista das Belas Artes, e a familiaridade com o contexto cênico-espetacular.

Aqui, não se pode deixar de lado o traço científico, importante para um trabalho consistente na área, envolvendo o estudo da neurociência cognitiva, incluindo o estudo das imagens mentais.

Ou seja, as imagens já se encontram nas primeiras ideias do diretor/encenador de um espetáculo, mas, também, do autor de uma peça (o texto dramático-literário, formal ou improvisado). Afinal, o ser humano elabora imagens mentais nos processos cognitivos, sensoriais, emocionais, na vida.

Para o artista/designer que atua nessa área, no entanto, isso não basta: ele precisa “racionar” com imagens, fazer escolhas, elaborar um logos imagético.

Esse contexto inclui o conceito de visualidade e suas relações com o espetáculo, tema abordado em meu livro, e pouco amadurecido na abordagem acadêmica brasileira da cena.

 

EDUFBA: Como foi recebida a notícia de que o livro foi vencedor do prêmio ABEU? Foi uma surpresa?

Tudella: Absolutamente. Assim como o Prêmio Capes de Teses fora uma grande surpresa. No caso do Prêmio ABEU, este brotou da generosidade de Flávia e de sua equipe da EDUFBA, que acreditaram nesse meu trabalho “A Luz na Gênese do Espetáculo”, desde sua publicação. É imperativo mencionar a honra pelo convite para a publicação do livro por parte de nosso magnifico reitor João Carlos Salles.

 

EDUFBA: Deixe um recado para os leitores.

Tudella: Ainda que aqui se tenha tratado da iluminação, da luz, preciso dizer ao meu(minha) leitor(a) que fique atento(a) à sua sombra. Afinal, o que nos revela no mundo não é a luz e, sim, a sombra. Sem sombra, você se transformará em uma entidade (divina?) invisível. E, por fim, se quer escrever, acredite, escreva. Eu não era um famoso teórico, um festejado estudioso da arte teatral, na minha comunidade. Era e, ainda sou, um professor da nossa universidade, trabalhando e estudando diariamente. Apenas debrucei-me sobre os estudos, sobre minha prática, e venci muitas adversidades. Acredite, estude, trabalhe. Algumas pessoas se surpreenderão com aquilo que você pode realizar. Quem quiser compartilhar o andamento da minha pesquisa, ofereço uma disciplina no PPGAC-UFBA, denominada, Cena e Visualidades. Apareça.

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