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Aldri Anunciação

Neste mês, o Espaço do Autor EDUFBA apresenta uma entrevista com Aldri Anunciação, do livro Namíbia, não!, que reúne o texto integral da peça homônima, além de imagens de apresentações do espetáculo e fotos dos atores. A montagem, que marcou a estreia de Aldri Anunciação como dramaturgo, foi laureada pelo Prêmio Fapex de Teatro em 2010 e indicada ao Prêmio Braskem em 2011. Aldri Anunciação, soteropolitano, é bacharel em Teoria Teatral pela Universidade do Rio de Janeiro. Desde 1994, ele atua em seriados televisivos, em telenovelas, em filmes e em diversas peças teatrais. Nesta entrevista, Aldri conversou com a gente sobre o processo de concepção de Namíbia, não!, a parceria com Lázaro Ramos neste trabalho e como surgiu a ideia de publicar o livro.

Por Laryne Nascimento 01/05/2012

1. Namíbia, não! aborda – com humor e senso crítico – uma questão que ainda é delicada nos dias de hoje: o preconceito racial. De onde veio a inspiração para escrever um texto sobre este assunto? Penso que o racismo ainda é uma ferida aberta no Brasil. E é um assunto que ainda incomoda muito as pessoas. Esse incômodo acaba provocando uma fuga do tema. A inspiração para escrever Namíbia, não! surgiu a partir do desejo de encontrar um formato que atraísse o espectador (leitor) para o debate sobre o preconceito racial. E o formato encontrado foi a comédia. O humor agrega e une as pessoas, quando ele é apresentado sem desrespeitar ou acusar o próximo. Esses pensamentos que me levaram a Namíbia, não!. 2. A peça logo chama atenção por se tratar de uma ficção futurística, gênero não muito presente nos palcos teatrais. Como o público reagiu a esta maneira de abordar o tema? Eu acredito que quando você se afasta no tempo e no espaço, você consegue ter uma visão mais nítida das coisas. Quando você está inserido no objeto de análise, tudo fica mais tendencioso ou parcial. Quando eu brinco de estar no futuro na história de Namíbia, não!, o espectador (leitor) acaba se distanciando no tempo e espaço, facilitando a reflexão sobre o assunto abordado na história daqueles dois primos confinados em um apartamento, sem saber se retornam ou não para África. E a grande transação é que apesar de estar no futuro, o texto fala de fatos do presente. Isso cria uma reação de atração muito interessante na plateia. 3. Este texto marca também a estreia de Lázaro Ramos como diretor teatral. Como foi a experiência de trabalhar com ele nesta peça? Quando nos encontramos pela primeira vez, não sabíamos o que ele faria no processo do espetáculo. O texto despertou o interesse dele logo no primeiro momento. Lázaro Ramos é uma pessoa muito ligada a questões sobre as relações humanas e, assim como eu, sempre procura inserir isto nos seus trabalhos de atuação. Antes mesmo de descobrirmos o que ele faria neste processo, ele já começou dirigindo o espetáculo, sugerindo formatos de encenação. Ele leu o texto com um olhar distanciado e analítico; e logo percebi um encenador na minha frente. Foi quando eu disse: "Lazinho, eu não sou autor, mas escrevi este texto. E você? Mesmo não sendo diretor, toparia dirigi-lo?" Assim iniciamos essa jornada; dois atores experimentando novas searas de trabalho. Durante o processo de direção, ele foi muito sábio e cuidadoso comigo e com o Flávio Bauraqui, que estávamos em cena. Ele buscava despertar a humanidade dos dois primos, sempre a partir do texto, estimulando um universo muito rico de emoções nas cenas. Essa humanidade despertada por Lázaro Ramos (diretor) que também facilita o acesso aos corações dos espectadores. 4. E a ideia de publicar o texto em um livro, como e quando surgiu? Surgiu a partir do desejo de ampliar as vias de acesso ao teatro. O livro, além de estimular o imaginário do leitor, poderia ser uma forma de divulgar essa arte que ainda não cabe em um pen-drive. Hoje quase tudo pode ficar armazenado em um HD de um computador (música, cinema, fotografias, imagens de pinturas e mesmo livros), menos o teatro. As cenas de uma peça de teatro, composta pelo ator vivo no palco, presente e iluminado por refletores e "cheios de som e fúria", não podem ser armazenadas em um pen-drive. A ideia do livro de Namíbia, não! (que contém fotos de cena e programação visual do talentoso Filipe Cartaxo) é fomentar o desejo do leitor de ir ao teatro conferir aquela história ao vivo. 5. Poderemos ver Namíbia, não! novamente em cartaz em Salvador ainda este ano? Sim, estamos articulando e planejando para voltar em agosto e setembro para Salvador. Por enquanto, estamos realizando uma temporada no Rio de Janeiro no Teatro Glauce Rocha (quinta a domingo) até o dia 27 de maio. Depois, seguimos para BH. Acho importante mostrar essa faceta do teatro baiano em outras praças do Brasil e perceber as diferentes reações ao espetáculo. 6. Deixe uma mensagem para os leitores da EDUFBA. Caso tenham oportunidade, adquiram o livro Namíbia, não! e, depois, vão assistir ao espetáculo. Vocês vão curtir essa relação entre literatura e teatro e perceber as diferentes matizes que uma ficção pode ter nessa migração de linguagens. Além de se divertir e se emocionar com a história dos primos André e Antônio, lidando com uma medida provisória do governo brasileiro, exigindo o retorno de todos os afro-brasileiros para África.

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